2006-05-23

Notícias do jornal

Em Brasília há discussões se é ou não possível usar a máquina de xerox para fazer cópias de processos e permitir mais de uma pessoa ler os autos. A lei é clara: nada de xerox. O resultado também: processos contra ladrões do PT demorarão décadas para chegar a uma conclusão.

Enquanto isso, na Inglaterra, pousa pela primeira vez o mega-jumbo A380, cujo desenvolvimento consumiu US$12 bilhões e foi feito pelo consórcio europeu Airbus. Acredita-se que com a explosão de demanda de transporte de passageiros e carga na Ásia, particularmente na Índia e China, o A380 proporcionaria a solução ideal, potencialmente duplicando a capacidade de aeroportos, por transportar mais de mil passageiros de uma vez. O crescimento econômico sem precedentes da Asia está transferindo o centro de gravidade econômico do mundo para essa região.

Ainda na indústria aeroespacial, a Embraer desenvolve novos jatos. O conteúdo de peças importadas destas aeronaves é de 98%, portanto quase nenhum insumo é feito no Brasil. Até os parafusos são importados. Para piorar a situação, quando a Embraer vende uma aeronave para uma empresa brasileira, a venda tem que ser feita através de um banco no exterior, de preferência em um paraíso fiscal, pois as taxas de juros escorchantes do mercado nacional impedem totalmente as transações de leasing em moeda nacional.

Após rebelião em São Paulo todos os jornais estão preocupadíssimos com a situação de perigosos bandidos. Uma boa parte das notícias ocupa-se de verificar se estes assassinos condenados terão ou não televisão para assistir a copa do mundo e se o direito de visitas íntimas, garantido pela Constituição Federal, vai ser mantido. A Folha de São Paulo está especialmente interessante: a manchete menciona que uma Lei Federal aprovada exige que os presos trabalhem e esse direito está lhes sendo negado. Interessante: em um país cujo desemprego é de 20% e o restante está sub-empregado, os presos, assassinos condenados, terroristas e estupradores, têm direitos que o cidadão comum não tem e a Folha grita insistentemente para defendê-los. Em outros países os presos têm o direito de ficar presos, incomunicáveis, até o fim de suas penas. Lá eles não vão arruinar um país inteiro com táticas terroristas.

Enquanto isso a China anuncia que investirá 110 bilhões de dólares em pesquisas para inovação tecnológica e que em 2030 60% do crescimento do PIB será devido a novas tecnologias, desenvolvidas localmente. Hoje a China cresce por aumento de produtividade, transferindo mão de obra do campo para atividades industriais. Todos sabem que esse negócio de enxada não tem futuro. Agribusiness é feito com automação e tecnologia. A China percebe, justamente pelo fato de os seus dirigentes serem esclarecidos, que não há como continuar crescendo se não começar a gerar tecnologia de maneira autônoma.

No Brasil, um grupo organizado de "trabalhadores rurais" destrói instalações de pesquisa para melhora de eucalipto. Interessante notar que estes "trabalhadores rurais" têm como meta oficial dividir terras e lavrá-las com enxadas. As metas não oficiais são impublicáveis. Notem que a China, muito mais pobre que o Brasil, tira gente do campo e cresce.

Queria lembrar também que quando um assassino é condenado na China, ele é fuzilado. Em um bonito gesto simbólico, o governo faz com que a família do assassino pague o preço da bala usada para a execução. Para quem não entendeu, o governo está mandando uma mensagem: "este cara não valia nada."

Não vou comentar as notícias sobre o roubo organizado do estado promovido pelo Partido dos Trambiqueiros, nem a rede de subornos que eles instituíram, porque essas notícias não saem nos jornais no estrangeiro. Aliás, uma interessante constatação: apesar de que todo o mundo deveria estar morrendo de rir do Brasil neste momento pela inacreditável incompetência em lidar com todos os assuntos, desde justiça até exército, desde governo federal até municipal, investimento e impostos, condições sociais e de emprego, apesar de toda esta inacreditável malha de burrice que cobre o país, ninguém ri.

Ninguem ri, e não é por solidariedade. Não vêm a seriedade da situação. Não se compadecem do Brasil. Ninguem ri porque ninguém se interessa. O Brasil não sai no jornal. O Brasil já é considerado por todos um país atrasado, incivilizado, incurável. O Brasil é saudado com silêncio.


9 comentários:

Anônimo disse...

Zappi, não sei se é porque o meu aniversário está se aproximando (dizem que a gente vive um inferno astral um mês antes do nosso aniversário - eu sempre achei essas coisas uma enorme besteira) mas ontem, ao ler as notícias, me deparei com a bomba: o nosso preparadíssimo presidente, que nos defendeu tão bem no caso com a poderosa Bolívia, que sempre foi honestíssimo e nunca soube do mensalão e das outras barbaridades que correm pelo seu ministério - que é de sua total confiança - e que tem o maior apreço pela educação de seu povo, pode ser reeleito sem necessidade de segundo turno.
Eu me senti um otário...
Estou pensando seriamente em seguir o seu caminho. Acho muito difícil conseguir o que você conseguiu, mas não descarto essa possibilidade.
Estou mal, meu caro. Estou percebendo agora o quanto falta para sermos realmente um país.
Falta tudo.

Anônimo disse...

Temos divergências, aqui e ali, mas o Percy pegou na veia: passamos do desespero e pânico do dia-a-dia regido pelos administradores trás-das-grades, para a desilusão (já nem raiva ou motivação para a luta contra) de um novo mandato para Noço Guia. Para continuar levando a vida, bem faz o Percy, de sonhar longe, como eu também sonho com Paris, quem sabe? Estamos, como você diz, com o que nos resta de um solene silêncio. Barulho e luz - Paris.

Anônimo disse...

Olá,

Seus comentários me deixam preocupado. Acho que não atinjo meu objetivo. Sabem, um amigo me disse outro dia:

"Zappi, não vou mais ler o seu blog porque me dá dor-de-barriga."

Ele se referia ao fato de que deixou uma oportunidade de sair do Brasil e agora tem que ficar aí à força, por uma série de circuntâncias. O que escrevo mostraria ainda mais a patética situação em que o Brasil se encontra. Prefere ignorar tudo para poder levar a vida adiante.

Uma vez tive uma discussão com uma empregada, que tinha o nome parecido com o da Juliana de Eçá de Queiroz. Foi há uns dez anos. Hoje vi em um dos blogs um diálogo similar. Para mim isto é uma prova de que nada mudou. O diálogo se referia ao fato de que se trabalhasse no governo, ela também roubaria. Tudo muito natural, tudo muito certo.

O Reinaldo Azevedo em Primeira Leitura escreve:

"Prestem atenção ao perfil de Juliana, a criada, aparentemente subjugada pela patroa.
Ela tinha menos inveja da outra do que rancor. Ela não ambicionava viver os confortos daquela por quem se sentia humilhada. De fato, deplorava tudo aquilo porque entrevia uma suspeita de beleza e de algo acima de sua capacidade de fruir a vida. Era uma sensação insuportável. Lula diria, por puro farisaísmo, que faltaram à criada a educação e os meios para alcançar uma esfera superior de prazeres. Balela. Faltavam-lhe caráter e grandeza moral."


Discordo parcialmente dele no "caráter e grandeza moral". Não estou certo de que eu entenda essas palavras da mesma maneira do que ele. Discordo também que Lula se daria ao trabalho de explicar a cabeça da criada. Mas no resto é genial! Falta algo à empregada e ela sabe. Quando tem a oportunidade, tortura a patroa da maneira mais vil, porque não tem freios; daí deve vir a 'grandeza moral' a que Reinaldo se refere. Além disso destrói aquilo que não pode ter. Isso não é dinheiro, riqueza, luxo. O que ela não pode ter é a capacidade de sentir. A patroa sente e Juliana se aproveita simplesmente disso. Quem sente goza da vida mais, mas em contrapartida sofre por si e pelos outros. Quem não sente sofre muito menos, mas infelizmente não tem como apreciar algo belo. Percebam como o desprezo pela arte e ciência encaixam aqui perfeitamente.

Lula é a personificação do ódio de Juliana. Juliana pode votar em Lula, pois é seu direito. O faz simplesmente porque o patrão fica doente com isso. Assim ela destrói aquilo que mais a tortura, a humilhação de conviver com alguém que tem a capacidade de ver o mundo de uma maneira muito mais rica, poética. Destrói porque, deprimido, o patrão vê o mundo de maneira muito mais negra do que é, e agora ela está por cima. Ela não sente nojo.

Gente Humilde, do Chico Buarque, é a materialização deste paradigma. Quem chora não é o humilde, se é que vocês entendem o que quero dizer. Um taxista uma vez me comentou sobre uma viagem que fez ao nordeste, a um lugar muito pobre. Ele comentou, meio horrorizado, como o pessoal encarava a morte de uma filho: "Anjinho subiu ao céu..." e só. Há uma diferença fundamental aqui, e temos que entendê-la.

Solução? Quem 'sente' tem à disposição ferramentas muito mais sofisticadas do que 'quem não sente'. Caímos na armadilha do asco infinito, mas temos que perceber onde estamos e pensar uma nova estratégia. Negar o mundo não vai resolver.

Gosto muito quando vocês comentam. É difícil escrever meio que às cegas desde o outro lado do mundo. As Julianas estão com o Lula. Desfazer esta aliança é o objetivo. Parece difícil... aceito sugestões.

Um abraço, e não desanimem.
Zappi

Anônimo disse...

Não se preocupe, não desisto. A desilusão é um sentimento inteiro e próprio ao se constatar uma possibilidade horrível e, pior, futura. Ou seja, mais do mesmo. As pessoas - Julianas - continuam nos agredindo no que supomos ter de melhor: nossa visão crítica do mundo, que não se modifica pelo governo de plantão. Gosto muito do Reinaldo Azevedo, considero sua escrita, quando trata de temas pessoais, machadiana. Não concordamos em tudo, principalmente por ele ser CAR (católico, apostólico, romano). Sou agnóstica, disso não há volta. Uma vez uma psicóloga me disse que eu tinha uma enorme vida interior e eu respondi: preferia ser feliz (mas isso só vale algumas vezes, valia naquela, não vale hoje). É fato, Julianas não têm o sentir desenvolvido, só raiva, necessidade de pôr abaixo o outro, destruir ao invés de construir. São pessoas que nada fazem para ser felizes, mas empregam enorme energia para infelicitar as pessoas no entorno. Repito: não se preocupe. Não é porque conseguimos ver nossa miséria humana (e um brasileiro na Austrália não deixa de ser prova disso) que estamos desesperados. "Desilusão", como escrevi originalmente, é um sentimento com até certa doçura. Olhar pra frente, nesse momento, significa olhar para o futuro pessoal; o do Brasil, a se confirmarem as expectativas, vai à merda.

Anônimo disse...

Não deixe de ler Roberto Romano
http://eticaciencia.blogspot.com/

Zappi disse...

O problema não é que a Juliana é má. O problema é que ela é um tipo de inválida emocional. Não sei a origem, a causa da invalidez. Ela nota a diferença entre ela e a patroa, se sente humilhada por essa diferença, mas está tudo muito além do que ela seria capaz de alcançar. Também é peculiar o fato do Reinaldo estar lendo um dos meus livros favoritos, "O homem sem qualidades" de Musil. Comprei aqui um no original (alemão) e estou penando para ler, mas vale a pena. Tenho uma versão em italiano, mas está empacotada em algum lugar... mudança é fogo.

O homem sem qualidades não é um tipo mau, mas lhe falta algo. Musil escreve mais de mil páginas tentando descrever o que lhe falta... Não tenho dúvidas de que esse cara e a Juliana são de alguma maneira relacionados.

Engraçado, também me incomoda o fato do Reinaldo ser católico... demais.

Um abraço,
Zappi

Anônimo disse...

Gosto muito dos comentários da Shirlei e das respostas do Zappi. Como sempre estão em um nível que beira o limite do meu parco entendimento.
Juliana, Musil, alemão, italiano (ainda consigo ler nessa língua - afinal descobri uma aplicação para aquelas nada didáticas aulas da Piera, lembra Zappi?). Mas como foi dito acima, eu não posso desanimar. Aliás, eu não quero desanimar. Concordo que o desânimo e a desilusão sejam a constatação da iminente tragédia que significa o futuro se tivermos mais do mesmo. E que, para que isso aconteça, só com uma verdadeira população de Julianas (obrigado a vocês, aprendi mais uma), o que torna a desilusão maior ainda pois a doença não está restrita apenas ao círculo do poder. Está disseminada pela sociedade, perto de nós, recebendo as mesmas informações mas simplesmente não reagindo. Ou não sentindo. Ou, o que é muito pior, não percebendo o tremendo perigo que isso significa: a perpetuação da indigência, seja ela cultural, moral ou intelectual.
A minha desilusão é enorme. E, ao contrário da Shirlei - que deve ter os sentidos muito mais desenvolvidos do que os meus - eu não consigo sentir uma pontinha sequer de doçura.
Acho que é o meu inferno astral...

Anônimo disse...

Percy, calma... Ainda vai dar certo. É que tem que ser 'chato'. A simpática flexibilidade Brasileira vai ter que sofrer um golpezinho. O jeitinho vai ter que dançar. No Brasil sempre se diz que os países de primeiro mundo são "chatos"... Claro, não pode burlar aqui, driblar ali...

A Juliana é uma frouxa, super-covarde. Ela só fez o que fez (levou a patroa ao suicídio) por que ela não via o mínimo risco para ela mesma. Agora é hora de apertar: "errou" (vernáculo petelho) - pagou. É nesse sentido que tem que direcionar as energias.

Se você não trabalha no Judiciário, faça com empregados ao seu redor. "Errou - pagou" funciona, por que todo o mundo vê que a situação não está mole.

Vão dizer que você é chato, canalha, o escambau. O importante é você deixar bem claro que as regras do jogo são essas. O mar não está para peixe...

Cancele sua assinatura da Folha. É um jornal de quinta categoria. No Jornal do Brasil deixam o Leonardo Boff escrever... que meleca! Se alguém fala mal do PCC a Folha considera o Marcola "o outro lado". Nada disto faz sentido. Acho que o melhor é adotar uma atitude de tolerância zero. Descobriu que alguém é petista? Rua!

Um articulista muito decente é o Augusto Nunes do JB. Não dê dinheiro para canalhas!

Força Percy.
Um abraço,
Zappi

Anônimo disse...

Percy, parou! Esse pensamento cristão de que todos são tão bonzinhos, tadinho deles, não compreendem, não entendem, não vêem.... Mentira. Assim, seco mesmo. Muitas das pessoas que vão votar no PT, no Noço Guia e toda corja sabe EXATAMENTE o que está fazendo. Não pense você que todo mundo é legal como você, gente boa feito você, ESQUEÇA você. Minha decepção com "tudo isso" levou anos de trabalho gratuito para o representante sindical (!), uma crença que eu não dediquei nem aos dogmas, à fé cristã, costumes do que eu pensei que era o Brasil. Me empenho por retirar de lá quem ajudei a subir. Mas não ponho mais meu futuro na mão de ninguém. Aliás, das poucas coisas que não pagam imposto aqui é - ainda - sonhar. Sonho e me dirijo para meu objetivo. Sem abrir mão da minha indignação, mas sem abrir mão de mim mesma. PT nunca mais. Em tempo: não faço aqui campanha pró-quem-quer-que-seja. Qualquer um que tenha honestidade intelectual já me é suficiente.